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“A dor é minha, em mim doeu, a culpa é sua, o samba é meu.”, por Raizel, #7

Oi,

Nem sei por onde começar.. hoje é meu aniversário e sonhei que você estava na minha festa de aniversário com sua mãe (que estava chiquérrima por sinal), sua irmã e seu cunhado. Foi muito real, foi horrível. Eu acho que eu simplesmente preciso botar pra fora, o meu bom e velho desabafar.

Desde que te conheci você nunca saiu de mim. Mesmo que no início não tivéssemos nada, lembro de estar namorando com meu ex você ser um fator que apareceu na minha relação com ele. Depois estivemos juntas e agora, depois de tempos separadas, ainda assim não consigo te esquecer. E não é por falta de tentativa, você sabe que eu sou muito prática, tento de todas as formas superar situações ruins, mas o sofrimento de não estar com você ainda me dá trabalho. Além do trabalho pessoal em terapia tenho me exposto a diversas tentativas de relação, mas sempre falta algo. Deve ser coisa de primeiro amor, não sei.

A verdade é que na maior parte do tempo eu estou bem, profissionalmente estou super realizada e tenho saído com pessoas bem bacanas, mas de vez em quando bate que eu nunca fui tão feliz quanto quando estávamos juntas. Inclusive acho que essa bad bateu agora porque um amigo me disse isso essa semana. Sei também que nem tudo foram flores no nosso namoro! Mas mesmo assim esse sentimento não passa. Já tentei ressignificar, recalcar, te odiar, mas nada adianta. Por isso ate que estou tentando desabafar. Tanto que não escrevo na ilusão/esperança que você volte para mim a partir dessa declaração, nem sei se é isso que eu gostaria e você já deixou claro desde o início sua posição. Essa carta é mais pra mim mesmo, me permiti por ser meu aniversário.

Aproveito até para me desculpar pela forma que ajo desde nosso término, e isso é algo que me incomoda muito. Desculpa pelas mensagens, dramas, choros e chiliques. Tenho até medo de ser só essa lembrança que você tenha de mim: a ex louca! Foi sofrido, mas era eu, nao devia ter te incomodado tanto com isso. E imagino que esteja de novo com esse email. Espero que um dia fique tudo bem comigo pra ficar tudo bem entre a gente. Queria te ver, saber como você está, te dar um abraço.

Anyway, você é importante demais pra mim.

Um beijo.

 

Obs1: essa carta é antiga.

Obs2: ficou tudo bem comigo.

Obs3: nunca recebi uma resposta.

 

 

Rituais, Por Simone Cyrineu, #3

Na próxima quinta-feira, o que acontece depois? Vira sexta.

Dia 31, vira primeiro.

Todo mês acontece isso, mas de Dezembro para Janeiro não é só o mês que muda, é o ano – porque desde o nascimento do cara lá de cima contam-se os anos. E aqui não vamos entrar no mérito das religiões, impérios e estações lunares da época em que cada um contava o tempo como bem entendia. É assim que a gente vive hoje e não me recordo de nenhuma manifestação recente de alguém querendo mudar isso. Ok, exceto pelos Astrólogos que querem colocar mais um signo no calendário mas como isso viraria o caos das personalidades, vamos deixar pra lá.

Mas o que acontece depois? Qual a mágica que nos envolve para crer que de um dia para o outro, tudo será diferente? Rituais.

Se der uma busca no dicionário da vida – o tio Google – irá encontrar uma infinidade de rituais dos mais variados possíveis, o importante é você se identificar e se envolver por inteiro no que irá fazer.

Particularmente eu curto gosto adoro amo essa época do ano, me parece que as pessoas ficam mais otimistas, com uma fé no bem e que de alguma forma se reconectam a si mesmas.

Não sei quando me dei conta, mas nos últimos anos percebi que tinha meu próprio ritual de ano novo. Dia 31 procuro me retirar por algumas horas, busco um silêncio junto a natureza e ali sozinha rezo, medito, faço uma retrospectiva de todas as coisas boas que aconteceram no ano, agradeço pelos que amo e por tudo isso, mas também peço, concentro energias em coisas que eu gostaria que acontecessem e me visualizo nestas situações em plenitude. É meu momento íntimo, mesmo no meio do agito de alguma viagem com os amigos.

Nos últimos quatro anos, agreguei um novo ritual à minha virada que aprendi com meus amigos músicos de infância e tudo mudou – mostrar a bunda pra Lua.

Parece estranho mas é um ritual maravilhoso, ele é coletivo e ao mesmo tempo íntimo, ou seja, parece que todos passam a vibrar na mesma freqüência e ai sim o ano começa. Como acontece? Simples.

1º. Procuramos a Lua – normalmente ela só aparece minutos antes disso acontecer e se estiver chovendo a chuva para, é mágico.

2º. Formamos uma fileira com todos os presentes, não pode faltar ninguém, ficamos um do lado do outro – braço com braço, assim cada um tem sua bunda-privacidade – o objetivo aqui é outro e não ver o popô do colega.

3º. Elegemos um relógio oficial nosso, ou seja, não nos interessa o que ta acontecendo na TV, na boate ou em qualquer outro lugar.

4º. Fazemos a contagem regressiva e na virada, todos baixam as calças, mostram a bunda pra Lua e dá um grito vindo do âmago, colocamos todos os nós nesse grito uníssono. É uma sensação maravilhosa.

5º. E ai sim vamos, recompostos, aos abraços e beijos para todos!

Isso faz sentido para nós, que acreditamos que “nascemos virados pra Lua”, se tornou algo especial e se espalhou por outros grupos de amigos. Acaba virando também uma forma de conectarmos uns aos outros.

Rituais são bons marcos de passagem. Desencadeiam em nós algum movimento canalizado para aquilo que queremos, e talvez conscientemente não sabemos dizer como exatamente isso acontece. Quem sabe nem seja preciso entender.

Experimente fazer algo diferente neste Ano-Novo, pode ser cores, flores, mantras, silêncio, ondas, roupas, música, sozinho ou coletivo, o quê exatamente já não importa tanto, um ritual para ser bom não tem regra e passo a passo, tem mesmo é que fazer sentido dentro de você.

Feliz Rito! Feliz virada e Feliz ano novo!

 

 

Guia Ammora das Calcinhas de Ano-Novo, #3

Paz, saúde, amor? A gente quer mais é acabar com o patriarcado!

verde: cor de alface, rúcula e da couve do suco detox. cor de nenhuma dieta maluca em 2016. pra quem quer um ano saudável, e se odiar não é nada saudável

azul: calcinha de cor de menino pra quem quer falar de futebol, carro, tecnologia, cerveja, sem receber cara de espanto em troca.

cinza: a cor neutra porém sempre elegante é a cor para quem quer ter paciência infinita para apenas virar os olhos toda vez que ouvir “ah, mas agora tudo é machismo”

amarelo: vamos manter a tradição de propor a cor de calcinha do dinheiro, afinal, salários iguais

vermelho (de preferência rendada): calcinha das “mal-comidas” e “com falta de pica” de 2016.

bege: a universalmente aceita como calcinha menos sexy para quem deseja mais filmes e séries com protagonistas femininas iradas para ver no sofá de casa

preta: em vez da branca da paz, a calcinha preta faca na bota da mina que não passa recibo

sem calcinha: gata, o corpo é seu, a vida é sua, arrasa.

 

 

Menstruália: águas selvagens que carregam a arte do feminino, por Carol Miag, #2

Me perguntaram, um dia desses, de onde eu tirei a ideia de pintar mulheres menstruando. Ah, essa vontade que as pessoas têm de chegar à gênese das coisas.

Não foi uma coisa “calculada” mais do que “sentida”. Além de ter descoberto a sintonia para entender o caminho hormonal do meu ciclo, suas flutuações e reverberações emocionais, além de eu ter adotado práticas naturais de combate à TPM e à dor, teve um fator decisivo. SACO CHEIO.

Sim, eu estava tendo um belo de um “dia do saco cheio”. Aquele dia que a gente sente que as coisas já deram o que tinham de dar, sabe. Nessa época eu frequentava uma instituição maravilhosa de artes aqui em São Paulo, mas percebia que a grande maioria dos meus colegas desenhistas, artistas, quadrinistas, iam pelo fácil caminho onde as representações do corpo feminino quase exclusivamente se prestavam ao consumo masculino, em que as mulheres apareciam, não raro, em situações de sujeição. Claro, eu tinha várias colegas incríveis e feministas. Nesse dia do saco cheio, estar perto do machismo nas artes – inclusive, tendo várias dessas pessoas bombardeando minha timeline com seus desenhos enfadonhos & agressivos, mais do mesmo – me incomodou de um jeito diferente. Aquilo me deu um impulso para a criação; em vez de reagir escrevendo textão ou brigando com alguém no Face, fui pintar.

Comecei a desenhar um corpo feminino, uma forma imponente e curvilíneo, em uma postura incômoda, “séria”. Desenhei a vulva discretamente entreaberta. Olhei para tinta vermelha e não tive dúvida: a partir dali, o sangue jorrou nas minhas pinturas, um sangue que é nossa história, nossa memória cósmica no mundo e na sociedade.

Coloquei minhas mulheres do Menstruália em cenários fecundos - alguns até fálicos - onde elas podem sangrar à vontade e com liberdade, sangrar tudo o que têm direito e onde bem quiserem. No cogumelo, na árvore, no chão, enfim, no espaço que lhe é de direito.

Quando eu já tinha pintado duas menstruadas, a curadora Silvana Viestel me convidou para participar de uma exposição coletiva, a “Eu, Tu, Elxs” (2014), cujo tema era gênero e as suas mais diversas expressões, suas potências e questionamentos hoje. Para dar sequência as pinturas, senti necessidade de criar um texto-condutor, minha “música de trabalho” aqui no MiagStudio:

 

O peso nas pernas, nos seios, na cabeça, nas emoções. A dor do volume, regida pelo pêndulo das luas que norteia a dança do feminino em busca de liberdade, multiplicidade e afeto, na tentativa selvagem de manter a lucidez dentro de um regime opressivo do corpo e da forma - o regime da estética sem ética, do prazer esvaziado que leva à interrupção dos ciclos naturais de introspecção e expansão que o corpo feminino pede e busca.

Menstruália é um planeta para o sangue de sua criação poder jorrar infinito, sem impedimentos de todos os corpos possíveis. É a dança da vida com a morte: quando a menstruação acontece, marca também o poder feminino de escolher entre a morte e o nascimento de um novo ser, a missão de portal criativo da mulher. Toda menstruação é um fim e um recomeço." ‪#‎bucetistas ‪#‎menstrualia ‪#‎sanguesagrado ‪#‎manifestomenstrualia ‪#‎meucorpominhasregras

{Manifesto da coleção em aquarela Menstruália, por Carol Miag, 2013-2014}.

 

Novembro passado tive o prazer de conhecer a cantora e artista plástica Ana Claudia Lomelino através da artista Nila Carneiro. As duas me incentivaram a abrir o diálogo do Menstruália para outras artistas, outras mulheres, como uma ciranda ininterrupta de contato com nosso self selvagem. Criamos o grupo só para mulheres Menstruália no Facebook, que tem por manifesto:

 

Manifesto Menstruália ou Queremos Usar Calça Branca ou Queremos Sangrar Em Toda Parte em Paz ou Somos Bucetistas

Menstruação. Cor, cheiro, choro, sagrado, marca, poder, criação, percepção, conexão, intuição, movimento, energia, dança. Menstruação. Sincronia entre mulheres, todas as mulheres do mundo. Nossas pegadas pelo mundo, marcado pelo nosso sangue. Plexo lunar. Movimento circular: peitos, bucetas, bocas, clitóris, cabelos, peles, unhas, uivos, selvageria, cio, dor, sororidade, receptividade, raiva, amor. Paz na vulva. Viva la vulva. Sangue da menstruação: todas nós, vínculo infinito bucetista. Menstruália: pode entrar.

{Miag, 09/11/2015, do planeta lunar para todas na Terra}

 

O Menstruália surgiu de um movimento meu de ocupar um lugar mais íntimo na minha própria vida de artista, de querer lembrar visualmente as mulheres de que é belo esse sangue e de que ele tem a vitalidade da nutrição ancestral. De que podemos o que quisermos. Fico feliz em expandir para a troca com outras mulheres, me sinto mais forte assim. Ana Claudia, Nila e todas as minhas amigas são fundamentais para que nosso empoderamento seja potente como um efeito em cadeia, ininterrupto. É isso que queremos com o Menstruália nessa nova etapa, de coletividade. Já não fico sozinha noMiagStudio. Me sinto sempre com elas. Vamos pintar e sangrar por aí, livres.

 

 

Entrevista: Dani Kuisch, #1 

Como é ser engenheira em Israel?

Minha vida de engenheira começou mesmo em agosto, eu adoro. Antes eu tinha uma vida de estudante. Quando eu fiz vestibular eu não tinha muita certeza da engenharia civil, e hoje eu tenho muita. Eu acho uma profissão incrível, e aqui em Israel tem uma procura muito grande.

Você já sentiu dificuldade em ser levada a sério na universidade e no trabalho por causa do seu jeito?

Eu senti uma vez, na faculdade, ainda no Brasil. A gente fez um trabalho em grupo e fomos visitar uma obra, colocamos capacete e todos os equipamentos de segurança. Todos os trabalhadores da obra ficaram olhando, tipo “o que essa menina acha que está fazendo aqui”. Me senti mega mal e por quê? Porque sou menina, e tenho o cabelo comprido

E dando aula, alguma coisa do tipo?

Aqui em Israel se começa a estudar mais tarde, então meus alunos não eram meninos de 18 anos, eram mais ou menos da mesma idade (que eu), era engraçado. Isso eu senti, porque achei que meus alunos iam ser pequenininhos e eram homens que já tinham feito exército.

Como é a relação entre meninas no curso de engenharia? Você acha que rola uma união a mais por serem minoria?

Na faculdade de engenharia, pelo menos na minha turma, as meninas sim se unem. Acho que não é por serem minoria (até porque não é um grupo enorme com todas as meninas da turma, são grupos pequenos, que se formam por afinidades). O legal dessa união é que vocês passam por tanta coisa juntas, 5 anos tão intensos, que cria uma amizade muito real. No meu grupo não tinha competitivdade. A gente sempre que dava fazia grupos juntas e acabava trabalhando juntas. Daí claro, a gente misturava estudos e trabalhos com reuniões na casa de alguém e com papos de menina.

Como é morar fora em relação às amizades, tanto as que estão no Brasil quanto as de Israel?

Em relação a amizades do brasil, sem dúvidas é mais difícil de manter uma relação próxima, mas não é impossível. Acho que é uma questão de fazer questão, sabe, de se esforçar para não perder uma coisa que é importante para você. O difícil é não poder estar presente em alguns momentos importantes da vida de alguém, que você faria questão de estar presente mas pela distância não deu, tipo não conseguir ir para o casamento de uma amiga. Mas não dá para estar em 2 lugares ao mesmo tempo, então, você se conforma e se emociona vendo fotos e vídeos. Eh o que tem para hoje. Em relação a amizades aqui, acontece uma coisa muito engraçada, por não ter por perto a família próxima, os amigos viram uma família. São essas pessoas que tão aqui pra comemorar com você quando você termina o mestrado, pra te levar pro hospital quando você tem uma crise alérgica, pra ir na sinagoga em yom kipur, pra ajudar na mudança de casa, pra comprar moveis e tal...

Qual o seu programa favorito com amigas aí? E sozinha?

Meu programa favorito com amigas aqui é passear no Sarona. Sarona é um lugar relativamente novo em Tel Aviv e é tipo um parque urbano, uma área publica bem no meio da cidade, com casinhas antigas, daquele estilo alemão, com lojinhas e restaurantes, espalhados numa área verde, linda, com arvores, flores, lagos.... Um lugar muito fofo para passear!

Meu programa sozinha é ver seriados e filmes no computador. Impressionante como os episódios de Friends não perdem a graça mesmo depois da décima vez.

Você diz que a sua relação com a sua irmã é de amiga, como essa amizade mudou com o passar dos anos?

A relação com a minha irmã sempre foi boa (tirando as brigas pelas Barbies quando a gente era pequenas). A gente tinha um "momento irmãs", que a gente deitava na minha cama ou na dela (uma cama super estreita) e via um filme juntas, as vezes um filme velho e repetido, mas que a gente adorava. Eu lembro que quando ela viajou por um ano em 2004, eu senti muito o fato de ela não estar em casa, e foi a primeira vez que a gente ficou separadas por bastante tempo. Mas depois de tantas idas e vindas da minha parte e da parte dela, a gente aprendeu a estar perto mesmo estando longe.

Uma coisa muito normal do meu dia a dia é pensar "preciso contar isso pra minha irmã".

Você é competitiva?

Eu não me considero competitiva. Acho que eu sou mais perfeccionista, sabe, eu me preocupo em fazer as coisas bem feito, mas não me preocupo tanto em comparar com as coisas que o outro fez. Gosto de fazer da melhor maneira que eu posso, independente do outro fazer melhor ou pior.

Qual é a sua parte do corpo preferida?

Eu gosto dos meus ombros. Meio esquisito mas eu gosto. Sabe essa região embaixo do pescoço, os ossinhos. Como chama isso, colo? O que fica de fora quando você usa tomara que caia, é isso.

O que te faz chorar?

A verdade é que bastante coisa. Filmes, tipo o Diário de uma Paixão, esse estilo, às vezes livro, TPM, eu choro com uma pequena facilidade

Falando em chorar, você ainda vê Grey’s?

Assisto e adoro, mas não estou em dia, falta um episódio. Inclusive chorei muito, muito, muito, quando Derek morreu. Foi muito triste...

Que outras séries você está vendo? Alguma preferida?

Sobre series, eu to vendo Grey’s anatomy, Scandal, Mindy Project (dica da thais) e Hart of Dixie (que serie mais fofa!)

Qual é a roupa que você se sente melhor em vestir?

Pijama. Eu iria trabalhar de pijama.

Você categoriza as roupas de acordo com a situação?

Claro. É tudo separado. Eu tenho roupas de trabalho, que são mais profissionais. Eu tenho roupas de sair, que são mais arrumadinhas, saias mais curtas. Tem as roupas de ficar em casa, que são bem confortáveis e não são muito bonitas. Entre as roupas de sair, tem as roupas de sair de dia, que são roupas leves e que não batem nem para trabalhar nem para sair à noite.

Em qual superstição você acredita?

Eu acredito em olho gordo, e eu acredito sério, então eu uso todos os símbolos para me proteger. Eu sinto que algumas pessoas tem uma energia ruim. Eu sinto de algumas pessoas então eu gosto de me proteger, eu penso que mal não vai fazer.

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