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Are you the One? e Are you the One? Brasil, por Thais Lancman, #9

Are you the one? é um reality criado pela MTV americana, e depois comprado pela MTV Brasil, que consiste em juntar na mesma casa dez homens e dez mulheres que supostamente são péssimos em relacionamentos e que supostamente realizaram muitos testes científicos para que a produção detectasse seus pares ideais. Ao longo de dez episódios, eles devem encontrar esses casais, de duas formas: a cabine da verdade, para onde a casa manda um casal, e recebem a confirmação de que são um par ou não (se são, eles vão se amar a sós em um hotel), e as cerimônias, em que montam uma hipótese dos dez casais e luzes dizem quantos estão certos, mas não quais (quem já jogou senha entende essa lógica muito bem). Se acertarem os dez, além da alegria de acharem o amor da vida, ganham uma grana.

Antes de mais nada, AYTO é heteronormativo pra caramba (também, se fossem casais bissexuais com combinações infinitas não teria chance de eles acertarem) , não tem gente gorda e negros são minoria absoluta. Mas a gente gosta mesmo e estamos aqui para falar isso para o mundo.

Em primeiro lugar, AYTO é colaborativo. Ou todo mundo ganha, ou ninguém ganha. Só isso já é fantástico porque muda totalmente a dinâmica em relação a outros programas de TV semelhantes. O default das pessoas é ser de boa e curtição, e quando alguém entra na bad, ou fica de futrica ou ciuminhos etc, claramente destoa. Também é engraçado ver a dificuldade que as pessoas têm em não competir. Vira e mexe alguém rompe o combinado da casa toda de quem deveria vencer uma prova (e ir para a cabine da verdade, favorecendo a estratégia do grupo), ou mesmo já tiveram casais que fingiram que não estavam mais juntos só para não correrem o risco de irem para a lua de mel e perderam a farra de estar com a galera.

Falando em farra, esse é outro ponto positivo de AYTO, em especial a edição americana. As pessoas bebem muito, todo dia. Nesse ponto os brasileiros perdem, tirando os dias de baladinha (será que o nosso tem baladinha porque as pessoas relacionam qualquer reality com Big Brother?), você vê os participantes tomando um vinho na piscina, fazendo um churrasco sussa. Pfvr brasileiros, vodka!

Na verdade o AYTO original é bem melhor que o brasileiro, porque tem muito mais emoção. As pessoas são bem mais cara-de-pau, barraqueiras, e até mesmo se apaixonam de jeitos muito mais descontrolados. Tem as possessivas loucas, os machistões babacas, os ultra-românticos que levam a sério os “testes científicos” da produção e realmente estão em busca do grande amor. Nas temporadas brasileiras, o clima foi mais ameno, e a narrativa principal do programa, que é “se você estivesse do lado do seu par ideal, você saberia?”, foi totalmente esquecida por eles e, consequentemente, pela produção. Na verdade ninguém lá quer saber muito do par, do dinheiro, eles participam do programa como se estivessem no BBB, querendo ficar o maior tempor possível na casa, considerando sair uma derrota.

Outra coisa legal é que, nas cerimônias das luzes, Ryan, apresentador da versão americana (por sinal parecidíssimo com David Miscavige, chefão da cientologia), faz perguntas bem sacanas e dá altas alfinetadas nos participantes do programa. Felipe Titto, no AYTO Brasil, é bem mais boa praça, e se deixa enrolar um pouco. Titto, aliás, já fez e está fazendo de novo Malhação.

De volta aos casais e à busca por um amor ou um relacionamento saudável, o AYTO tem gente que se conhece há cinco dias dizendo que é o amor da vida, dramas de término, ciumeiras malucas, gente encontrando “um novo amor” depois daquele término traumático da semana anterior, decepções, amizades, e um monte de gente bonita curtindo um clima de verão, ou seja, não vai mudar a sua vida mas é um programa divertidíssimo e irresistível de não gritar com a TV quando você vê o resultado de uma cabine ou uma cerimônia. Sim, você torce para casais, monta pares na sua cabeça e fica se perguntando se eles ficaram juntos depois. Para dizer que a gente tira uma lição disso, a lição é que o coração é burro e que se todos os testes do mundo podem detectar um par ideal para a sua personalidade e o que você busca em um relacionamento, dane-se.

Se essa resenha te convenceu e agora você quer muito ver AYTO, sugiro a segunda temporada americana, por motivos dessa mulher: Christina era um double-match. Ela era uma menina que entrou depois e era o segundo par de um dos caras, sem que ninguém soubesse quem era esse cara. Escândalo!

PS: Se nada disso funcionou (sério, olha a cara da Christina, que fofa), talvez um vídeo da Jout Jout bêbada funcione.

 

Resenha Sincerona: Como eliminar seu chefe (1980), por Thais Lancman, #8

*resenha patrocinada pela Net TV em seus dias de sinal aberto dos canais Telecine

Ouso dizer que é o filme mais legal que vi nos últimos tempos, ao lado de Um Senhor Estagiário. É engraçado ver um filme feito há mais de trinta anos com elementos que hoje buscamos em filmes e narrativas sobre mulheres: sororidade, empoderamento, quebra de estereótipos, está tudo lá!

Não vou dizer que é um filme é o filme mais feminista da história. As protagonistas são brancas, um pouco romantizadas às vezes, algumas cenas são um pastelão, mas é um alívio ver uma história tão divertida e sem cair nos clichês da mocinha procurando o amor.

Na verdade, o filme é a quebra disso: as personagens principais são três colegas de trabalho. Uma é novata na empresa, e acabou de ingressar no mercado pois se divorciou. A outra é uma secretária constantemente assediada pelo chefe (e odiada pelas colegas que acreditam que eles têm um caso). A terceira é uma espécie de chefe das demais, que percebe que nunca vai ser promovida por ser mulher. As três se unem contra o tal do chefe que odeiam, um machistão, grosso e babaca.

No meio do caminho, enquanto se conhecem e descobrem o inimigo comum (proletários do mundo, uni-vos!), elas bebem, fumam maconha, e eu achei muito divertido a combinação dessas mulheres que bem poderiam ser personagens Girls, mas vestidas com o pior da moda anos 70/80.

Se tudo isso não é propaganda o suficiente, uma nota: as protagonistas são Jane Fonda e Lily Tomlin, que atualmente fazem Grace e Frankie no Netflix, além da cantora country Dolly Parton, que também canta a canção-tema do filme (se prepara, ela vai grudar na sua cabeça).

 

Minas com interessância, Por Thais Lancman, #6

Não é questão de ouvir bandas de meninas ou cantoras por militância, mas é que tem várias coisas legais que vão além do pop de todo dia – super ótimo, Taylor Swift te amo –. Aqui estão algumas que comecei a ouvir nos últimos tempos, e fazem parte da minha playlist no spotify.

Girlpool: São duas meninas de Los Angeles, California. Elas cantam um folk às vezes mais intenso, mas algumas letras são bem engraçadinhas. As duas dividem os vocais de um jeito meio dupla sertaneja, mas é legal. A música Chinatown foi uma companheira de fossas do final de 2015.

Hinds: Espanholas rainhas da descolândia, as meninas do Hinds são as amigas que eu gostaria de ter. Elas cantam em inglês com um sotaque ótimo, e são bem inspiradas em bandas indies dos anos 90, principalmente Breeders. Elas são a minha maior aposta, têm feito vários shows na Europa, Estados Unidos e Japão, daqui a pouco aparecem por aqui.

Soko: Música de gente incompreendida. Fazia tempo que não ouvia letras tão intensas sobre se sentir meio alheia a tudo, sobre querer agarrar o mundo de uma vez só. Soko é francesa de origem polonesa, mas também canta em inglês. Ela tem um disco ótimo de 2015, mas a minha música favorita é I thought I was an alien, mais antiga.

K.flay: Trilha sonora das minhas corridas no ano passado, K.flay é uma psicóloga formada em Stanford que faz um hip hop sincero e engraçado. Algumas músicas são fofas, mas gosto daquelas em que rola uma auto-zoação, ou algumas com versos tipo “minha vida é como uma série cancelada”, ou “se você quer uma amiga, escolha Rachel Green”.

Dum dum girls: Som clássico de indie que não sabe dançar direito, Dum dum girls é uma banda que não grava nada desde 2014, mas elas têm músicas próprias ótimas e covers também. É uma daquelas bandas que parece que você já conhece todas as músicas, e não consegue parar de ouvir por uns dias.

 

Bônus: As clássicas

 

Sleater Kinney: Na primeira edição da Ammora eu queria escrever uma carta para a Carrie Brownstein dizendo o quanto eu amo ela. Não rolou, mas a banda dela é demais, o livro dela é lindo e as séries em que ela atua, Portlandia e Transparent, também.

Bikini Kill: Rebel Girl é a minha música para a Raizel <3

The Donnas: Adoro principalmente o primeiro disco, que parece muito uma versão feminina de Ramones, inclusive no jeito que elas cantam sobre encher a cara, pegar uns caras, cair na porrada

Sahara Hotnights: Até meu ipod dar pau, as três músicas mais tocadas eram dessa banda sueca.

Fiona Apple: Antes de Amy e Adele, Fiona já cantava deixando nossos corações do tamanho de uma moeda de dez centavos.

 

 

Cinco sites feministas para conferir, Por Raizel Rechtman, #5

Tem muita mulher produzindo conteúdo de qualidade, divertido, informativo, que coloca a leitora para pensar. Indicamos aqui alguns que adoramos. Eles servem de exemplo ao mostrar que todas nós podemos fazer algo, e para quem não está afim do trampo de construir uma página do zero (e é trampo, viu?), fica a dica de que algumas delas aceitam colaborações de textos e arte.

Ovelha – O nome Ovelha vem de ovelha negra mesmo: diferente, única. Essa é uma revista para mulheres que não se sentem representadas pela mídia tradicional. Elas trazem análises muito ricas da cultura pop e das artes, e outros textos super fáceis de se identificar e se informar. Destaque para a seção “Cotidiano” que se subdivide em: vida adulta, estudos sociais, auto-ajuda e dicas, e para a página delas no facebook, que têm os melhores gifs do mundo.

Não me Kahlo – Musa do feminismo e escolha número um das minas descoladas para fantasias no carnasampa, como não gostar da Fridoca? Este blog super colorido foi criado pelo Coletivo Feminista Não Me Kahlo na intenção de ser um espaço de debate e construção coletiva de uma sociedade igualitária. Ele começou sendo (e ainda é) uma página no facebook e agora também funciona na versão de newsletter. Porque mulher moderna é assim: multitasking (pra quem ficou na dúvida, fui irônica)! O que faz do Não Me Kahlo bacana é que é um espaço para que mulheres compartilhem suas histórias. Vale conferir a seção “Feminismo na rede” que tem links de vários vídeos legendados!

Não aguento quando – Essa página surgiu de um projeto de faculdade em que cada grupo precisava escolher uma questão social para divulgar no meio digital. Sorte a nossa que um grupo de sete garotas escolheu o feminismo! Além dos textos e notícias, elas escrevem uma seção chamada “Referências”, que aborda livros, filmes e séries, bem bacaninhas como por exemplo: “O episódio final de Buffy e o empoderamento feminino”. E, para deixar tudo mais maravilhoso tem o projeto Prisma, uma extensão do NAQ (apelido carinhoso da página) que é uma plataforma digital democrática onde artistas mulheres autoras e donas do próprio discurso e da própria arte podem expor seus trabalhos.

Girls With Style – O diferencial desse blog é que ele é voltado para mulheres que gostam de consumir moda tradicional de forma consciente. Nada de “tem que ter” ou “certo e errado”. O GWS é um blog que foi criado por duas melhores amigas (me identifiquei <3) e que tem como foco o empoderamento, amor próprio e autoestima das mulheres. De dicas de estilo e decoração ao slut shaming de Kanye West com a Amber Rose, ele fala de feminismo ao defender que estilo não tem nada a ver com regras nem padrões estéticos.

Lugar de mulher – Esse site é daqueles pé na porta! Feito por estarem de saco cheio da mídia tradicional que coloca a mulher à serviço do homem, o Lugar de mulher chegou pra colocar a mulher onde ela quiser. O site é descontraído, o que já da pra perceber no título das suas seções: Maneiras, Libertinagem, Bonitezas, Querelas, Prendas e Entretém. Os textos tabém são categorizados por tema e tem um sensacional chamado “Ir cagar ninguem quer né” na qual são escrito textos com dicas de respostas desaforadas sobre situações do cotidiano. Informação + Empoderamento = MARA!

 

 

A Amiga Genial, Elena Ferrante, #1

1. A sinceridade da resenha começa pelo fato de que nenhuma de nós leu o primeiro livro da série napolitana da autora misteriosa (Ferrante, se esse é seu nome verdadeiro, não aparece em público). Na verdade, não fosse a insistência de dois ou três conhecidos, que leram os primeiros livros da autora italiana, A amiga genial passaria batido. A edição brasileira não é das mais bonitas, ainda que melhor do que as estrangeiras.

2. Trecho de matéria n’O Globo:

“Quando era jovem, a autora conta ter pensado que, para escrever bem, era preciso escrever como homem. Afinal, muitas das personagens femininas mais icônicas da literatura — como Emma Bovary, Anna Kariênina — foram criadas por homens.

— Graças ao feminismo, descobri a potência das poucas vozes femininas que conseguiram um espaço. Comecei já tarde a estudá-las, e algumas ainda estou estudando. Parecem-me inigualáveis. Gosto de representar mulheres que escrevem sobre si”

3. A amiga genial fala de duas amigas: Elena, a narradora, e Lila. Elas se conhecem ainda meninas, na Nápoles empobrecida pós II Guerra Mundial. Elas são meninas espertas, jogam pedras nos meninos, veem na educação uma oportunidade para escaparem da pobreza, viram adolescentes obcecadas em ganhar dinheiro.

4. Diversos críticos e blogueiros consideram a prosa de Ferrante “seca” e “cruel”, no sentido de Elena ser uma personagem que não poupa críticas à sua amiga “genial” (li um pouco mais sobre o título na resenha de James Wood, mas me parece um pouco spoiler então melhor deixar quieto). Esses dois adjetivos me parecem afastar Elena Ferrante do que normalmente se identifica como literatura feminina, sentimental, romântica, com um estilo mais floreado. Ainda que esse tipo de avaliação parta geralmente de quem não lê muitas autoras, principalmente contemporâneas, é bom ver lançamentos causando alarde rompendo esse estereótipo.

 

leia trechos de A Amiga Genial aqui

uma entrevista com Elena Ferrante aqui

e a resenha de James Wood sobre este e outros livros da autora aqui (em inglês)

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